quinta-feira, 24 de julho de 2014

Superproteção

27- Superproteção Querido diário, Você sabia que, como contadores de histórias, nós podemos ser superprotetores? Isso acontece quando apenas selecionamos histórias pautadas em “happy ends” para compor o nosso repertório. Pode haver uma tendência, consciente ou inconsciente, de apresentarmos às crianças um mundo colorido, isento de conflitos e frustrações. Quando isso acontece, nós queimamos a ponte que se estabelece entre as histórias e a vida real, pois as próprias crianças sabem que o mundo não é colorido o tempo todo. Na verdade, em muitos casos, somos nós mesmos que não nos sentimos preparados para lidar com as dicotomias da vida e isso acaba se refletindo no nosso repertório. Isso já aconteceu comigo. Havia uma história de uma menina que queria muito ganhar um cachorrinho. Após muito tempo de expectativa, os pais resolvem lhe dar o cão e ela escolhe o animal. Mas o cachorro é roubado e, no final da história, ela ganha outro. Gente, eu não me conformei! Queria porque queria mudar o final da história. Queria que a menina achasse o seu cachorrinho roubado. Queria que a garota fosse feliz com ele. Não servia outro cão. Não pra mim. Quando percebi que, na verdade, eu tinha dificuldade de lidar com a perda, aceitei a história e com ela cresci muito, muito. Além disso, para a minha surpresa, as crianças aceitaram o fato que a história trazia, com naturalidade, ainda que envolvidas emocionalmente com o cãozinho que elas imaginaram: “Tia, roubaram o Pirata, né?”. Uma das funções da contação de histórias é acordar a criança para a vida. E, na vida, se perde e se ganha, se chora e se ri, se erra e se acerta, se cai e se levanta... Claro, isso não impede uma visão otimista de que podemos superar os desafios, fazer das quedas passes de dança, escrever uma história bem mais feliz do que triste. Afinal, “eu sei que a vida podia ser bem melhor (e será), mas isso não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita”.

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